"...Cada curva que fazemos transforma a paisagem em redor em algo totalmente novo..."
Depois de uns dias em redor de Ajacio, cidade natal de Napoleão Bonaparte, decidimos seguir ainda mais para norte. Na Córsega não existem auto-estradas e acreditem que o simples conduzir de um carro já se revela uma verdadeira aventura e emoção! São quilómetros e quilómetros de estradas nacionais com curvas e mais curvas, numa ilha que é quase toda ela uma montanha!
Não há como fugir destas estradas emocionantes, nem mesmo em grande parte da costa, já que a montanha se estende até ao mar em quase toda a ilha! Cada curva que fazemos transforma a paisagem em redor em algo totalmente novo e somos constantemente presenteados com cenários que nos fazem querer parar o carro quase de cem em cem metros. E é por isso mesmo que se pode tornar tão perigoso conduzir aqui. Pela fantástica receita de estradas sinuosas e de condutores completamente distraídos pela paisagem. Já os verdadeiros corsos, experientes no terreno e conhecidos pelo seu temperamento um tanto ou quanto efusivo, contornam furiosos os carros lentos dos turistas. E como os entendemos!
A partir do Golfo de Liscia seguimos sempre junto à costa, espreitando de um lado a montanha e do outro o mar. De vez em quando aparecem algumas praias em forma de meia lua, com pequenas povoações costeiras, estranhamente sossegadas para tal altura do ano. Pouco depois, a estrada levou-nos um pouco mais para o interior e foi nesse momento que começámos a ver as montanhas que pertencem à mesma formação rochosa dos Calanques! Já devíamos estar a chegar!
Não é por acaso que os Calanques de Piana são considerados património mundial pela UNESCO desde 1983, e apesar de me ter cruzado com algumas fotografias na internet, nunca estive perto de imaginar tamanha beleza e grandiosidade. Trata-se de uma formação geológica de rocha plutónica onde ecoam montanhas e pináculos de rocha alaranjada entre vales e florestas que se estendem até ao horizonte! Um jardim de rocha que termina glorioso no mar!
Pouco depois de cruzarmos a aldeia de Piana começa a sinuosa estrada que atravessa os Calanques! E ainda bem que não estava eu a conduzir porque seria muito difícil tirar os olhos de tudo o que ia aparecendo à nossa volta! Parar também era impossível ali, pelo que não me conseguia conter cada vez que fazíamos uma curva! “Wowwww! Tão lindo! Olha olha amor” – era praticamente só o que me saía da boca à medida que espreitava pela janela fora. E muito devagarinho, lá fomos ziguezagueando pelas montanhas de pedra que não paravam de nos impressionar e inspirar.
"...Um jardim de rocha que termina glorioso no mar..."
"...Sim, tafoni, o nosso tipo de formação rochosa preferida!..."
Estacionámos o carro mais à frente para podermos finalmente contemplar aquele sítio espectacular! Depois do lanche típico destas andanças (pão com atum e respectivos acompanhamentos), caminhámos um pouco à beira da estrada.
Agora sim, era possível ver ao pormenor os castelos de rocha polvilhados com tafoni! Sim, tafoni, o nosso tipo de formação rochosa preferida! Vou explicar… O tafoni é uma cavidade arredondada na rocha, de paredes côncavas e lisas, criada pela acção contínua da água e do vento ao longo de milhares de anos. Pode apresentar os mais variados tamanhos e formas, passando de pequenos buracos onde apenas cabe uma mão a enormes cavidades do tamanho de casas ou mesmo prédios.
Já tínhamos visto tafoni no norte da Sardenha, mas é aqui na Córsega que ele se torna tão vulgar. Para além da beleza que confere às rochas e às próprias montanhas, que deixam de ser um pouco monótonas e homogéneas e passam a ser tão divertidas e curiosas, para nós escaladores, esta formação era uma novidade fantástica para nos desafiar e entreter!
Os Calanques integram vários percursos pedestres, mas deixados levar pelo sabor da aventura de quem não gosta de planear cada passo que dá, seguimos por um trilho que parecia nos chamar, aliciando-nos com a sua súbtil beleza!
Subimos pelo vale fora, cercados de ambos os lados por montanhas de granito com uma palete de cores entre o rosa e o vermelho, passando por diferentes e múltiplas tonalidades de laranja! Um espectáculo de cores interminável!
O sol abrasador do Verão era mais tolerável graças aos pinheiros que se amontoavam ao longo do trilho, tornando o caminho tão agradável quanto belo. E como eu adoro cada passo! A sensação de pisar o chão uma e outra vez… cada bocado de terra, cada monte de pedrinhas, cada raiz de árvore, cada tronco caído… A simplicidade de caminhar e poder brincar com cada degrau de rocha e com cada curva do trilho! Lembrava como seria fantástico correr por ali! Ter este sítio bem perto de casa para me poder ligar a ele uma e outra vez.
"... A simplicidade de caminhar e poder brincar com cada degrau de rocha e com cada curva do trilho!... "
"...era difícil tirar os olhos dos penhascos e parar de admirar o delicado equilíbrio das árvores e arbustos cuidadosamente pendurados nas suas fragilidades..."
Fora da linha das árvores, tão alto quanto alguns cumes rochosos, a vista para o mediterrâneo tornava-se cada vez mais desafogada e magnífica por cada passo dado! O verdejante vale por onde havíamos subido só terminava no mar, este que tanto brilhava para nos atrair a atenção! E, ainda assim, era difícil tirar os olhos dos penhascos e parar de admirar o delicado equilíbrio das árvores e arbustos cuidadosamente pendurados nas suas fragilidades!
Ao longe podíamos ver a elegante silhueta da reserva natural de Scandola, onde gigantes penhascos mergulham sobre o mar. E bem lá em baixo, a pequena estrada aos ziguezagues, com os carros tão pequeninos, lembrava-nos da verdadeira escala daquele lugar!
Já no planalto começámos a ver alguns afloramentos de granito e nós, desertos para lhes deitar a mão, corremos entusiasmados com a ideia de os subir!
Pouco tempo depois já eu subia divertida uma rocha aqui e acolá e o Jorge escalava ao longo de uma fissura de outra rocha qualquer! Escalador que é escalador jamais passaria por aquele lugar sem ousar umas pequenas e seguras escaladas. Fascinava-me tanto a maneira como a rocha se encontrava esculpida… com os seus contornos suavizados e recortes tão elegantes!
As formas, todas elas fantásticas, pareciam mesmo desenhadas pelos próprios deuses! Um buraco algures onde meter a cabeça, uma passagem por onde rastejar e explorar recantos, uma abóbada para fazer de casa ou uma fina lasca para fazer de banco ou até mesmo de cama… dava para tudo e para todos… com imaginação víamos de tudo e tudo servia para mais uma macacada qualquer! O tafoni fazia-nos lembrar a casca de um ovo, fina mas resistente, quebrada aqui e acolá para nos maravilhar com os seus contornos.
Acho que éramos capazes de ficar ali o dia todo a brincar, e bastava um das dezenas de afloramentos de granito que se encontravam à nossa volta, para nos entretermos o todo o dia. Parecíamos duas crianças e era assim que queríamos ser. Felizes e livres! Livres para fazer o que quiséssemos. Sem reservas e julgamentos…. Livres para apreciar a simplicidade que a natureza tem para nos oferecer.
"Felizes e livres... Livres para apreciar a simplicidade que a natureza tem para nos oferecer."
" Agora, apenas um sussurro do passado, passam por ele turistas curiosos de todo o mundo..."
Como o tempo voava! Ele voa sempre que vivemos genuinamente!
Seguimos um caminho que descia por outro vale e que nos trouxe de volta aos Calanques, onde continuámos pelo admirável caminho de mulas, usado pelos antigos corsos como única via de comunicação entre a aldeia de Piana e da Ota, esta localizada a norte e ligeiramente mais no interior.
Apesar do terreno incrivelmente acidentado, os antigos corsos conseguiram fazer um caminho notável, empilhando pedras de diferentes tamanhos, como um puzzle, tornando-o direito o suficiente para permitir a passagem das pequenas carroças. Agora, apenas um sussurro do passado, passam por ele turistas curiosos de todo o mundo.
Podemos sempre imaginar como seria o reboliço da altura… e o que é certo é que a paisagem não mudou, e juro que esta é qualquer coisa de fantástica! O caminho funde-se incrivelmente na paisagem, tão bem camuflado… lembrando o ideal que é quando as nossas construções vão de encontro ao ambiente natural que as envolve.
Ao percorrermos este caminho encontrámos um pequeno planalto cheio de mariolas e enquanto eu me deixava entreter pela paisagem, o Jorge equilibrava delicadamente pedrinha após pedrinha, até ter a famosa torre a que se dá o nome de mariola.
A rocha começou a mudar de cor! Já estava a ficar tarde… e assim as grandes paredes graníticas ganharam um tom de fogo, característico deste lugar. O ângulo do sol, agora mais baixo, permitia um jogo de sombras nas agulhas de granito, e a bruma, que fazia desvanecer gradualmente as montanhas até ao horizonte, dava um toque místico aos Calanques. Um silêncio absoluto!!! Não havia ali mais ninguém e se não fosse um carro ou outro a passar na estradinha lá em baixo, quase que nos podíamos imaginar de volta aos tempos de outrora.
Nós dois, tal como tantos outros, íamos identificando figuras e animais nas formações rochosas que iam aparecendo à medida que caminhávamos. Um autêntico jardim de pedra, onde apenas permanecem as graciosas árvores, que vistas de longe, nos faziam lembrar pequenos bonsais.
Continuámos de mãos dadas pelo caminho fora e depois de uma acentuada descida aos ziguezagues voltámos à famosa estrada de alcatrão. Com o sol a baixar cada vez mais no horizonte, quase podíamos ver os tons da rocha a mudar com o passar dos minutos! Cada vez mais intensas e alaranjadas, as paredes quase pareciam gritar! Era simplesmente deslumbrante e tão mágico!
Será que ainda íamos a tempo de chegar ao Château fort, conhecido como o lugar perfeito para contemplar o famoso pôr do sol nos Calanques? Não sabia, mas pelo que tinha lido no guia valia bem a pena tentar uma corrida contra o tempo! O trilho começa na curva onde deixámos o carro, mesmo ao lado da Tête du Chien, uma rocha com a forma da cabeça de um cão! Este é realmente um sítio para deixar voar a imaginação! O percurso tem 3,5 km e se nós queríamos ver o pôr do sol tínhamos mesmo que dar ao chinelo. Porém, não fôssemos nós os “crazy lovers” e não estivéssemos já mais que habituados a estas aventuras, lá partimos em entusiasmo e num ritmo forte.
O trilho sinuoso desce gradualmente pelo meio de vegetação exuberante, onde somos constantemente surpreendidos pelas fantásticas formações rochosas que vão aparecendo à medida que íamos ganhando terreno. Não fosse o tempo apertado, ficávamos a admirar cada delicada escultura de rocha e a discutir qual o objecto ou animal que nos fazia lembrar. Mas, impelidos pela fugacidade do sol, corríamos atrás do tempo, divertidos pela paisagem e pelo terreno, saltitando pelas rochas até depressa chegarmos ao destino.
" Este é realmente um sítio para deixar voar a imaginação... "
"... sentados na rocha ainda quente, ficámos abraçados em silêncio, vendo o sol mergulhar lentamente nas águas do mediterrâneo."
Mesmo a tempo!!! Já estava na contagem final para o pôr do sol e nós, sorrimos um para o outro, corados do esforço, orgulhosos e animados por termos conseguido.
O promontório rochoso é mesmo a varanda perfeita para apreciar o Golfo de Porto! Quando finalmente sosseguei o coração e acalmei a respiração deixei-me levar pela tranquilidade daquele lugar. Um lugar que nos hipnotiza com tamanha beleza e que nos envolve num reino de fantasia.
Uma mistura de tons azuis e suaves de tudo o que já se encontra à sombra com tons laranjas e quentes de tudo o que ainda é tocado pelos últimos raios de sol… um jogo de sombras que brinca com as formas da paisagem… e a silhueta desvanecida das montanhas de Scandola, que atraem a curiosidade de quem ainda se encontra longe. Um verdadeiro espectáculo para os olhos!
Atrás de nós, permanecem os impressionantes calanques e em frente revela-se o sereno mar mediterrâneo, num azul profundo que se estende até ao horizonte rosado. Ao nosso lado, o pináculo de granito que dá o nome a este local, Château fort, faz-nos lembrar um castelo, e logo atrás dele, podemos ver a pequena aldeia de Piana, envolvida nas belas montanhas.
O céu antes de se tornar azul escuro brinda-nos com um espectáculo de tons cor-de-rosa e púrpura. E nós, sentados na rocha ainda quente, ficámos abraçados em silêncio, vendo o sol mergulhar lentamente nas águas do mediterrâneo.
Le coucher du soleil
Château Fort, Calanques de Pianatambém em córsega
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