"...Podia ficar eternamente a vaguear pelos caminhos da terra dos sobreiros. Talvez um dia me cansasse... mas por agora só queria continuar! "
Um novo dia! O quarto do meu Caminho Histórico da Rota Vicentina! E como o tempo me foge quando estou embalada pela magia da aventura. Podia ficar eternamente a vaguear pelos caminhos da terra dos sobreiros. Talvez um dia me cansasse… mas por agora só queria continuar!
E que temos para hoje? O frigorífico da rústica cozinha parecia ter a resposta! Alguém, desconfiamos que francês, escreveu com letrinhas gordas mesmo na porta – “Aujourd’hui soleil“! Em português seria”hoje Sol“. A ementa perfeita para a minha viagem por terras alentejanas. Um Sol grande e quente que me acompanha e ilumina o caminho, que dá vida às coisas e aos bichos e que me entretem com uma paisagem de mil e uma cores.
Num canto da bancada, um cestinho de laranjas. Sobre ele podia-se ler numa pequena placa “special orange juice“. Que poderia querer mais?! Um suminho de laranja preparado logo de manhãzinha, que juntamente com uma fatia de bolo, me deixaram logo de sorriso de orelha em orelha. É incrível o carinho que este hostel do “WOW Alentejo” nos apresenta em cada simples detalhe. Por isso mesmo, antes de me escapar sorrateiramente para a rua, deixei umas palavras soltas num pequeno post-it amarelo. E ali ficou, camuflado entre dezenas de tantos outros, estampados na prancha de surf que servia de decoração na sala de convívio.
A primeira etapa deste dia, até São Teotónio, avizinhava-se fácil e muito tranquila. Talvez uma das mais acessíveis de todo o Caminho Histórico dada a natureza do caminho, sempre largo e de desnível pouco acentuado. Perfeito para apreciar o ritmo despreocupado dos seus habitantes.
Comecei o dia na zona ribeirinha do Rio Mira, onde tive a alegria de ter uma boa conversa com o senhor Fernandes, habitante da aldeia de Odemira. Percorremos juntos o agradável passadiço de madeira até à ponte vermelha sobre o rio. Depois de mais uma despedida sorrateira, passei pela ponte de ferro, onde tal como eu, também o rio curva para a direita. Depois de umas centenas de metros, deixei o asfalto, e com ele a civilização odemirense.
Segui pela estrada de terra na companhia do rio, mesmo ao meu lado esquerdo, apreciando pelos últimos breves momentos, a vista da aldeia que ficava cada vez mais para trás.
A paisagem circundante fez-me esquecer por momentos o que para lá ficou. Voltei a entrar no mundo de fantasia dos chaparros, sobreiros e sobreiras! Foi então que deixei a companhia do Rio Mira e passei pela propriedade agrícola Avé Sol, onde não fui capaz de deixar de parar. Saltei num ápice da bike! Só para poder dar umas festinhas a um lindo cavalo a pastar do lado de lá da cerca.
"...A paisagem circundante fez-me esquecer por momentos o que para lá ficou. Voltei a entrar no mundo de fantasia dos chaparros, sobreiros e sobreiras."
" ...Lembra-me da simplicidade do mundo e do ser, uma simplicidade que só se entende quando nos afastamos de tantas outras coisas..."
Que cavalo adorável! O seu dorso… um castanho claro. Igual ao do caminho que agora seguia. E a crina, a cauda e as patas… um castanho mais intenso, de madeixas de outros tons! Tal e qual os troncos descobertos de um sobreiro há pouco descortiçado. O seu focinho… dócil e sereno, reclina-se sobre o chão verdejante. Lembra-me da simplicidade do mundo e do ser, uma simplicidade que só se entende quando nos afastamos de tantas outras coisas. Quando aprendemos a abrandar o ritmo imposto por uma sociedade cada vez mais agitada e automatizada.
Que natureza perfeita… que segue sem pressa. Que cumpre um ciclo sem fim, onde tudo está cuidadosamente interligado e em equilíbrio.
Continuei a pedalar, durante alguns quilómetros, por campos agrícolas e manchas de floresta. Lembro-me de estar a subir pelo estradão e ter uma borboleta a voar ao meu lado. Estou há já tanto tempo neste lugar que me sinto pertencente a ele… e tudo parece possível… até uma borboleta se pode tornar uma companheira de viagem! Ainda troquei umas palavras enquanto ela batia as pequenas asas amarelas, mas, pouco depois, lá partiu rumo aos prados, graciosa.
Mais adiante, encontrei a Ribeira de São Teotónio. Uma ribeira com curvas suaves, evidenciando a pequena inclinação do terreno. A partir daqui o caminho faz-se paralelamente a ela. No entanto, a maior parte do tempo nem sequer a vemos. O que vemos sim, é a galeria ripícola, uma linha contínua de árvores que acompanha as margens do rio, na maioria amieiros, freixos e salgueiros. Como tinha chovido faz pouco tempo, e durante uma boa temporada, todo o prado, inserido na superfície de aluvião, se encontrava a vibrar num tom verdejante.
Aqui e acolá, fui encontrando alguns caminhantes. Deixava voar um “Olá” ou um “Bom Dia” com uma alegria do tamanha do mundo e seguia viagem. Já sabia como era se parasse para conversar com cada pessoa que se cruzasse no meu caminho… nunca mais chegava ao destino!
Porém… uns momentos mais à frente, a subir uma colina num ritmo mais devagarinho, cruzei-me com um casal de botas empenhadas. Transpareciam uma amabilidade tão grande, que me fizeram abrandar por um bocado e ficar para uma conversa. Karin e Reinder, ambos de nacionalidade holandesa, e tal como eu, faziam a Rota Vicentina, apenas de uma maneira diferente. Caminhantes e ciclista, ambos partilhámos por palavras, a paixão pela natureza e pela aventura. Falamos também das nossas vidas, dos nossos países distintos e de tantas outras coisas… e rimos, rimos muito!
Despedi-me com um sentimento de carinho, como se fosse alguém que conhecera há já muito tempo. São incríveis os laços que criamos pelo caminho… Bastam breves momentos para se fazerem ligações fortes. Esta é uma das coisas que mais me apaixonam nas viagens, especialmente nas que se desenrolam num ambiente natural, onde tudo acontece mais facilmente!
Mesmo antes de cruzar a ribeira pela última vez, algo me chama a atenção! É um burro! Armado em cão de guarda, começa a zurrar e a correr na minha direção. Que aparato sim senhor! Só acalmou quando já estava encostado à cerca mesmo à minha frente. Um animal tão bonito e catita, de pêlo castanho escuro e contornos beije aqui e acolá. Um olhar até um pouco triste talvez. Fico a deambular sobre a sua vida solitária. Não sei se é fruto da minha imaginação! Desde que me lembro, que sou assim. Parece que sinto a alegria ou tristeza que corre a alma dos bichos e das pessoas. E deixo-me levar por esse estado como também fosse o meu.
Fiquei por breves momentos a acompanhar o burrito, só para voltar a deixá-lo só outra vez. Só, no seu pequeno mundo dentro de cercas.
"... Despedi-me com um sentimento de carinho, como se fosse alguém que conhecera há já muito tempo..."
" ...desta vez não estava sozinha. Tinha alguém com quem rir, com quem me divertir e partilhar momentos e paisagens."
Depois de passar em Vale de Linhares, comecei a ver algumas quintas que anunciavam a chegada a São Teotónio. A minha visita à pequena vila foi breve… parei num humilde café para comprar algo que me servisse de almoço, contornei o largo da igreja e segui para sul!
Uns metros mais à frente e voltava àquilo que gosto de chamar de mato. Aqui, um trilho sobe ao longo de um bosque silencioso, coberto de sobreiros, carvalhos, pinheiros e medronheiros. O lugar ideal para uma paragem de almoço.
Deixei o trilho, dei uns passos em frente e sentei-me ao lado de um pinheiro bravo. Entre a folhagem, podia espreitar o vale onde poisa a modesta vila. Esse tempo pareceu-me mágico! Tudo me encantava ali, até o silêncio! Silêncio que só foi quebrado quando começo a ouvir vozes… e?! Bicicletas talvez! O barulho foi-se aproximando até que apareceram três homens! Fiquei radiante! Era a primeira vez que encontrava alguém de bicicleta por ali! Falámos sobre as nossas bicicletas e sobre os nossos destinos. E, apesar de não estarem a fazer a Rota Vicentina, seguiam rumo a Odeceixe, tal e qual como eu.
Ainda com meia sandes entre dentes juntei-me a eles!
A restante tarde foi fantástica, diferente das anteriores… desta vez não estava sozinha. Tinha alguém com quem rir, com quem me divertir e partilhar momentos e paisagens. Não é melhor nem pior, apenas diferente. Sozinha ou acompanhada, tento retirar o que há de melhor em cada momento… há emoções que só sozinha consigo sentir e momentos que só acompanhada posso ter.
Ter-me juntado, por mero acaso, na pedalada a estes três, foi uma surpresa espectacular! E a equipa estava montada com o Joaquim Loureiro, o Pedro Lucas e o Paulo Santos.
O tempo passou a voar! Depois de andarmos meio perdidos no planalto, distraídos pela conversa, lá nos desviamos à esquerda para descermos o bem preservado barranco de Vale de Fecho. Depois de passarmos uma zona de eucaliptos, com a ribeira do Cerrado do nosso lado esquerdo, chegámos à subida mais íngreme e, talvez a mais difícil de todo o percurso do Caminho Histórico. Distraída pela conversa e brincadeira dos meus camaradas do pedal, lá chegámos ao topo. De lá de cima, aguardava-nos uma recompensadora vista sobre as serras e todo o Vale de Alhos, que se estende até à vila de Odeceixe. Uma vez mais… o oceano Atlântico aguardava no horizonte.
Se a subida tinha sido íngreme, a descida não tinha nada a perder! Diverti-me tanto a descer a fundo pelo caminho de terra! E quando as coisas pareciam complicar só pensava “largar travões!”.
Cheguei ao vale num ápice, ainda cheia de adrenalina! Quando a malta chegou cá abaixo, gabaram-me pela destreza e coragem. Fiquei radiante e orgulhosa! Sentia-me bem, mais forte do que nunca! Era como se a minha vida tivesse passado a ser isto. A arte de pedalar e continuar a pedalar caminho afora. Depois de uma paragem para recuperar energias, conversar, e rir mais um bocado, seguimos até Odeceixe, onde a mulher e filha do Pedro nos esperavam.
Na esplanada de um restaurante chinês, os malcheirosos e sujos viajantes foram bem recebidos! À mesa, brindámos ao nosso dia, aos nossos feitos e feitios… e brindámos, claro, à nossa imprevisível amizade! Tão imprevisível como encontrar uma menina chamada Inês, tal como eu, com dois “polegarzitos totós” como os meus!
Tarde, bem tarde… e de cerveja a subir à cabeça, lá me despedi de todos com abraços apertados. Atravessei a vila e subi até ao planalto litoral. Aqui as marcações eram fugazes, e com a luz já ténue, acabei por andar às voltas sem encontrar o caminho certo. Sem outra hipótese, acabei por voltar à estrada nacional e fazer os últimos quilómetros até Rogil.
Já era de noite quando cheguei à Quintinha Mojud! Apareceu um vulto à distância. Era a Supriya! Abracei-a de tão feliz que estava por a ver. Tinha conseguido finalmente chegar a casa!
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